No ano da maior epidemia de dengue, há espaço para o otimismo
Ancorado
em quase 20 anos de estudo da evolução do vírus causador da dengue, o que o
tornaram referência no Brasil e no mundo nesta arbovirose, o virologista
Maurício Lacerda Nogueira, associado da Regional da APM de Rio Preto, projetou,
no início do ano, de que 2024 iria registrar o maior número de casos da
história do país. Infelizmente, a previsão tem tudo para se confirmar. Até o
dia 8 de abril, o
país contabilizava mais de 1,3 milhão de casos de dengue e um coeficiente de
incidência da doença de 661 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Bastaram pouco mais de três meses para este número representar 80% do total de
casos de todo o ano passado (1,6 milhão). E ainda faltam nove meses.
Até o início de abril, haviam sido confirmadas 363 mortes por
dengue no Brasil e 763 óbitos estavam sob investigação, o que poderia totalizar
1.126 mortes, segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério
da Saúde.
Embora
o cenário seja desanimador, Mauricio diz estar muito mais otimista hoje do que oito
anos atrás quanto ao controle da doença. A mudança de prognóstico baseia-se ao
desenvolvimento de três novas frentes de combate à dengue. “Existem duas
vacinas licenciadas que, apesar de suas limitações, se bem utilizadas, são
excelentes ferramentas. Temos uma terceira, talvez melhor, a caminho”, relatou
o virologista. “A segunda perna do tripé é o uso de mosquitos infectados com
Wolbachia, que cumpre o papel de diminuir de forma significativa a transmissão.
A terceira parte é que há ao menos três medicamentos antivirais específicos
para a dengue que estão em testes clínicos de fase 2 e 3. Por isso estou
otimista. Se não der para controlar, ao menos será possível mitigar de forma
significativa os impactos da dengue”, completou.
Enquanto estas frentes não se concretizam, o sucesso do combate
continua a depender das ações e infraestrutura de saúde, sobretudo, a pública e
da atitude de cada cidadão, por exemplo, no cuidar do lar. “A dengue é uma doença que se pega
em casa. O mosquito não voa longe. É papel nosso cuidar da nossa casa. Não
adianta esperar que o Estado vá tomar conta do nosso quintal. Temos de cuidar
da própria casa e da vizinhança para diminuir os focos de mosquito. Não resolve
tudo, mas diminui. Como não é possível controlar uma epidemia de dengue, o que
temos de fazer agora que os casos estão subindo é preparar o sistema de saúde
para receber os doentes e conscientizar a população sobre como evitar criadouro
de mosquito”, ressalta Mauricio, médico do Hospital de Base, professor e
pesquisador da Famerp e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.
O médico, obviamente, tem papel relevante no combate à dengue e
à chikungunya, outra
doença da qual observou-se o aumento do número de casos no noroeste paulista e
que causa sintomas clínicos semelhantes aos da dengue. “Temos a obrigação de
orientar e conscientizar nossos pacientes e a população em geral do que
precisamos fazer para reduzirmos os casos. Nós, médicos, já sabemos como, só
precisamos agir”, afirma o virologista.
Mauricio Nogueira concedeu uma longa entrevista à Revista
Fapesp, publicada na edição de março, na qual analisa a epidemia atual, detalha
as pesquisas e desenvolvimento de vacinas em curso e opina sobre o que deve ser
feito para combater a dengue. Leia a entrevista completa acessando o link
abaixo:
https://encurtador.com.br/tBQ17