Exercícios oculares resolvem?
Dr. Rafael Antonio Barbosa Delsin
A saúde ocular é uma preocupação crescente em um mundo onde vivemos online. A internet tornou-se um terreno fértil para atuação de sabichões. Afinal, hoje em dia o importante é dar opinião e não entender do assunto.
Os olhos são responsáveis por cerca de 85% de nossa comunicação com o meio ambiente. Com isso, a ideia de que exercícios oculares possam ajudar a recuperar ou melhorar a visão tem ganhado popularidade, principalmente nas redes sociais e sites de internet. Contudo, é muito importante ficar atento, pois várias destas práticas não apresentam evidências científicas comprovadas de que funcionam.
Primeiramente é importante entender o que são os exercícios oculares. Esses exercícios incluem uma variedade de práticas destinadas a fortalecer os músculos dos olhos, a melhorar a coordenação/flexibilidade ocular e a aliviar a fadiga ocular. Exemplos comuns são o palming (cobrir os olhos com a palma das mãos para relaxar), o foco alternado (alternar o olhar entre objetos próximos e distantes) e movimentos de olho em diferentes direções.
Os defensores desses métodos afirmam que tais práticas podem aliviar sintomas como fadiga, tensão e desconforto, especialmente para aqueles que passam longas horas diárias olhando para telas. No entanto, a maioria dos problemas de visão resulta de erros refrativos (miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia), que envolvem a forma do olho ou a capacidade do cristalino de focar a luz corretamente na retina. Portanto, esses problemas não podem ser corrigidos apenas com exercícios, pois envolvem alterações estruturais do globo ocular.
É importante especificar em quais condições alguns exercícios oculares podem ser benéficos. A ambliopia (olho preguiçoso) em crianças é tratada com o uso de tampões. Optamos por ocluir o olho bom para "forçar" o olho ruim a ser usado exclusivamente por algumas horas durante o dia. Já alguns tipos de estrabismo, como por exemplo a insuficiência de convergência, pode ser compensada com exercícios de estímulo da convergência. Esses exercícios, especificamente, ajudam a fortalecer os músculos oculares e a melhorar a coordenação entre os olhos durante a convergência, promovendo uma melhora dos sintomas relacionados a este tipo de estrabismo. No entanto, para outros tipos de desalinhamento não há evidência comprovada e que os exercícios oculares ou outras terapias visuais melhorem ou tratem o estrabismo.
Em resumo, enquanto os exercícios oculares podem oferecer benefícios em termos de alívio da fadiga ocular e melhoria da coordenação e da eficiência visual em casos específicos, eles não são uma solução comprovada para recuperar a visão ou corrigir erros refrativos. Para a maioria das pessoas com problemas de visão, a correção adequada com óculos, lentes de contato ou cirurgia é a abordagem mais eficaz. Consultar um oftalmologista é essencial para determinar a melhor solução para suas necessidades visuais individuais.
Dr. Rafael Antonio Barbosa Delsin é oftalmologista e 1º tesoureiro da Diretoria da APM - Regional de Rio Preto.