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Empreender na Medicina

Dra. Mariane Ribeiro Spotti


Empreender é extremamente difícil. No Brasil, então, é um desafio hercúleo. Na Medicina, não é diferente. Sei bem disso, pois descobri este lado ainda jovem, aos 27 anos, quando liderei projeto de implantação de uma área no Barra D’or, no Rio, e dois anos depois eu tinha formatado em minha cabeça o projeto de uma empresa de medicina diagnóstica. Há 14 anos, decidi voltar a Rio Preto para ter o meu negócio. Minha empresa completa 10 anos e vai bem, com unidades em Rio Preto e em outras cidades do centro oeste do Brasil.

Estes anos há frente de negócios me mostraram, com clareza, que para o médico empreender, no entanto, há requisitos essenciais.

O primeiro passo, imprescindível e determinante para o futuro do médico e do seu negócio, é o autoconhecimento. O médico deve fazer uma autoanálise para concluir se possui a veia empreendedora. Se não tiver, ok. Ser um excelente médico já é maravilhoso.

Ao concluir que possui também a vocação para administrar um negócio, o médico deve investir na sua formação, em uma especialização, porque as escolas de medicina não possuem disciplinas voltadas a este campo da vida. É preciso, portanto, buscar o conhecimento em outras fontes acadêmicas e cursos de especialização, como um MBA de gestão, por exemplo. É muito importante, no entanto, esta formação por si só não fará do médico um empreendedor.

É na escola da vida empresarial que ele forjará este seu lado.

O próximo passo imprescindível para empreender é cercar-se de um time de profissionais especialistas em diversas áreas da gestão, com financeira, jurídica, de recursos humanos etc. Por mais que tenha tino e formação para gerir um negócio, o médico deve ter a humildade de admitir que não sabe de tudo. Mesmo com o passar dos anos.

O médico deve sim ser o maestro da orquestra, ter claros os objetivos do seu negócio, seja um consultório, clínica, centro médico, e visão do seu futuro no horizonte de curto, médio e longo prazo. O que nós queremos para os nossos negócios? Esta visão é fundamental para desenvolver o planejamento estratégico junto com seu time de lideranças. Se o médico quer ter o seu consultório com uma secretária durante a existência de seu negócio, ok. O importante é ter claro onde se quer chegar e construir esta caminhada.

Claro que olhar somente para dentro do negócio não é suficiente. Fundamental ter a visão do macro, ou seja, do que acontece na economia do país e do mercado onde atua.

Não vejo nenhum negócio que se possa começar sem ter pelo menos um médio longo prazo, porque senão não se consegue fazer nem a estratégia para alcançar os objetivos. É muito arriscado começar um negócio mirando o curto prazo – um, dois, três anos. Ainda mais em nossa área. Nada na medicina é para amanhã.

Por isso, elaborar o planejamento estratégico da empresa é condição inestimável à existência do negócio. O empreendimento médico que não faz seu planejamento pelo menos anual e não o revisa a cada seis meses corre sérios riscos.

Outro ponto nevrálgico já há um bom tempo, indispensável ao sucesso do negócio é a eficiência – ser competente, produtivo, de conseguir o melhor rendimento com os menores custos e mínimo de erros. Este aspecto tornou-se ainda mais imperioso nos últimos anos.

Uma empresa só fecha a conta e gera lucro todo mês se cumprir este requisito. Temos que nos tornarmos cada vez mais eficientes, desde nossa atuação como médicos até a estrutura e funcionamento de nosso consultório, clínica ou empresa como um todo. Só ficará de pé a empresa médica que for eficiente. O que pressupõe cortar custos, ao mesmo tempo em que oferece atendimento e serviços de qualidade.

Existe o ideal e o possível. O empreendedor tem que ter esta percepção também. Como empresário, deve fazer com que o seu negócio ofereça o melhor possível e atenda as expectativas dos clientes porque a competição está cada vez mais acirrada e a fatia de brasileiros com condições de remunerar nossos serviços pelo justo valor é cada vez menor. O país e a população estão empobrecendo.

Não adianta ficar floreando. Não há mais espaço para amadorismo e ineficiência, sobretudo, na medicina. Daí a importância crucial do momento em sua vida no qual o médico se pergunta: quero empreender? Sou um empreendedor? 


Dra. Mariane Ribeiro Spotti é médica cardiologista e diretora cultural da APM - Regional de Rio Preto.