Saúde mental do corpo clínico
Dr. Henrique Nietmann
Os profissionais de saúde frequentemente trabalham em
ambientes de alta pressão, onde a demanda por serviços é constante e intensa. A
escassez de pessoal, combinada com a necessidade de fornecer cuidados de alta
qualidade, pode levar ao esgotamento físico e mental. A responsabilidade de
cuidar de pacientes e tomar decisões críticas sob pressão pode ser esmagadora.
O medo de cometer erros, que podem ter consequências graves para a vida dos
pacientes, contribui para os altos níveis de ansiedade e estresse entre os
profissionais de saúde pois todos os dias somos expostos a situações
traumáticas, como a morte de pacientes, acidentes graves e doenças terminais e
essa exposição contínua pode levar a transtornos de estresse pós-traumático
(TEPT) e outras condições relacionadas ao trauma.
Somam-se a isso as longas horas de trabalho e as demandas
contínuas que dificultam o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e muitos
profissionais de saúde lutam para encontrar tempo para descansar, socializar e
cuidar de si mesmos, o que pode agravar problemas de saúde mental.
O burnout é um destes problemas e se caracteriza pela exaustão
emocional, despersonalização e uma sensação de realização pessoal reduzida.
Além disso, os altos níveis de estresse no ambiente de trabalho podem levar ao
desenvolvimento de depressão e ansiedade. A pressão constante, combinada com a
falta de apoio adequado, pode resultar em sentimentos de desesperança, tristeza
e preocupação constante. Longas horas de trabalho e os turnos noturnos também podem
levar a problemas de sono, como insônia e sono não reparador, agravando ainda
mais os problemas de saúde mental e prejudicando o desempenho no trabalho.
Não é a toa que, em pesquisa recente entre médicos realizada
pela AFYA de 2022 mostrou que, de 3489 colegas que responderam a um questionário,
formado em sua maioria (59%) por médicos especialistas, 57% deles concordam que
os níveis de estresse comprometem sua capacidade de trabalho, sendo que 30%
destes reconhecem que tais níveis de estresse já os levaram a cometerem erros.
Em relação a sintomas depressivos, 30% afirmam não terem apresentado sintomas,
porém 28,6% possuem diagnostico atual e depressão e 23,4% apresentam sintomas,
mas ainda não acompanham. Um dado mais alarmante ainda demonstra que, mesmo sem
acompanhamento específico, 50% dos profissionais fazem uso de alguma substância
psicoativa e que 1 terço destes estão se automedicando.
Portanto, fica evidente que, com os dados expostos acima,
nossa classe necessita urgente de medidas de prevenção e cuidado, mas que infelizmente
ainda não está recebendo a devida atenção de nossos gestores e colegas. Porém há
luz no fim do túnel! Oferecer suporte
psicológico aos profissionais de saúde é essencial para promover a saúde
mental. Sessões de terapia, grupos de apoio e aconselhamento para ajudar os
profissionais a lidarem com o estresse e as emoções difíceis, campanhas sobre a
importância da saúde mental e como reconhecer os sinais de problemas, programas
de formação que incluam técnicas de gerenciamento de estresse, autocuidado e
resiliência podem ser estratégias eficazes no combate a essas mazelas.
Além disso, é
imprescindível a implementação de políticas de trabalho que promovam um
equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal. Redução de horas de
trabalho excessivas, turnos mais curtos, pausas regulares e a criação de um
ambiente de trabalho que ofereça suporte e valorização aos profissionais de
saúde pode fazer uma grande diferença. Isso inclui um bom relacionamento entre
colegas, reconhecimento do trabalho bem-feito e um ambiente onde os
profissionais se sintam seguros para expressar suas preocupações.
Em suma, a saúde mental do corpo clínico é um tema complexo
e multifacetado que requer atenção e intervenção contínuas. Reconhecer os
desafios enfrentados por esses profissionais e implementar estratégias de
suporte eficazes é fundamental para garantir que possam continuar a fornecer
cuidados de alta qualidade aos seus pacientes. Investir na saúde mental dos
profissionais de saúde é, em última análise, um investimento na qualidade do
sistema de saúde como um todo.
Dr. Henrique Nietmann é cirurgião torácico e delegado junto
à APM.