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Homenagem aos ex-presidentes - Dr. Kássey Vasconcelos - 55ª Diretoria – 2018/2020

De sua época de presidente da SMC, das suas experiências, o que mais ajudou-lhe depois na sua trajetória?

Dr. Kássey - Acho que a confiança adquirida com a passagem em uma instituição como a Sociedade de Medicina Rio Preto é a experiência única. Estar à frente dessa entidade na luta pela classe médica, na luta em busca de uma saúde digna para nossa região exige conversas, troca de experiências com grandes pessoas, grandes líderes e, com isso, eu deixei a timidez de lado e parti para aprender com as pessoas que tinham para ensinar e estes aprendizados nunca mais serão esquecidos. O cargo exige liderança e essa você constrói aprendendo não na teoria e sim direto no front, acertando e errando e sempre assumindo tanto as vitórias quanto as derrotas. Essa passagem na SMC forja um líder e isso tem me ajudado muito.

Lembra-se de feito marcante da sua gestão e que ainda hoje, quando olha, vê marcas do possível legado que deixou?

Dr. Kássey - Aprendi muito em duas gestões como tesoureiro junto com o presidente Geovane Furtado, grande amigo, de quem agradeço a confiança depositada em mim. Acho que minha gestão não se fez com um único feito marcante, mas sim vários deles. Mas acredito que foi a abertura da SMC para parcerias, viramos a chave de uma instituição mais fechada e a abrimos para novos parceiros, que nos ajudaram muito nas melhorias de infraestrutura de nosso clube. Isso tornou-se uma meta que se estendeu na gestão do meu tesoureiro e grande amigo Leandro Colturato, que me sucedeu e foi um grande parceiro em toda a minha gestão. Enfrentei o início da pandemia da covid-19 e, junto com Leandro, conseguimos com algumas ações manter a grande maioria do quadro de associados, assim como de funcionários. Tive sempre apoio da APM Estadual e de sua diretoria, que nunca se furtaram a nos ajudar quando precisamos.

A medicina se transforma dia a dia. Em termos de associativismo, o que enxerga de diferente agora e quais suas perspectivas no futuro?

Dr. Kássey - O associativismo, a meu ver, é a única saída para os desafios que nos cercam, mas o problema é que na medicina ele ainda é frágil, ou seja, nem todos sabem a força que a entidade tem quando estamos juntos nos propósitos e acabam olhando para si mesmo, enfraquecendo assim o associativismo. Mas, ainda em nossa cidade, capitaneada pela SMC, conseguimos muitas vitórias. Estamos longe do ideal, mas melhor que do muitas outras regiões.

O futuro, com a nova realidade do trabalho médico que tem sido assolado por parte de muitos convênios e a abertura indiscriminada de faculdades de medicina, pode ser duvidoso e, sendo mais sincero, pode piorar muito no curto e médio prazos, pois estamos num onda de transição, em que os custos de uma medicina de qualidade subiram muito e os planos de saúde os repassam sobre o trabalho médico com tabelas de remuneração imutáveis e empacotamentos com valores que não condizem com a qualidade do trabalho de ótimos profissionais que temos em nossa região.

Outro fator, como já dito, é a quantidade de médicos saindo das faculdades que ainda têm estruturas de formação muito aquém do ideal, refletindo na formação desses profissionais, que dependerão de boas residências médicas para aprimorar sua formação. Mas o problema é que não teremos bons serviços de residência médica para todos. Muitos ficarão à margem que, concentrando em grandes centros, verão cada vez mais seu trabalho com uma remuneração menor.

Afora esta realidade pessimista e, como tudo é um ciclo, acredito que nos reinventaremos, passando por esta transição, tendo a certeza de que só a união e o associativismo farão com que atravessemos este deserto da melhor maneira possível e, juntos, encontraremos as soluções para nossa classe.

O que gostaria de ver em nossa SMC e que ainda não foi realizado? Alguma sugestão para as futuras diretorias?

Dr. Kássey - Na realidade, hoje tendo um histórico de nove anos à frente da SMC, sendo seis anos como tesoureiro e três anos como presidente, posso dizer que a instituição faz o máximo que pode, dentro dos recursos que dispõe, mas o que realmente eu desejo é que o colega médico realmente virasse a chave e começasse a pensar que a união é a única maneira de passar pelas adversidades que nos esperam.

Associar-se à SMC e participar dela seria meu maior desejo. Temos ainda em nossa cidade muitos colegas médicos que acham que a SMC é apenas um clube de lazer com nossa adorável piscina, nosso lendário campão, nossa academia, nossas quadras de tênis e beach tennis e nossas festas. Sim temos tudo isso e muito bem cuidado, mas muito além disso, nossa Sociedade, com 97 anos de existência, é de longe a instituição que deve defender o trabalho médico e zelar pela medicina de qualidade e respeito em nossa cidade. Levar nossa mensagem aos médicos que estão fora da SMC seria minha sugestão. É difícil, pois não depende só das diretorias que ali passaram e que vão passar, mas sim de cada médico em nossa cidade mudar o seu pensamento.

Qual sua avaliação da atuação da classe médica e suas entidades representativas para a melhoria da saúde pública e suplementar no Brasil? Há algo mais que possa ser feito?

Dr. Kássey - A classe médica no Brasil sabe trabalhar muito bem, desenvolve pesquisas, apesar de toda escassez de recursos. Temos renomados colegas no exterior encabeçando muitas pesquisas, enfim, promovemos saúde nesse país continental que somos e, com tudo isso, deixamos de lado a valorização de nosso trabalho para que outros agentes o façam.

A APM tem realizado um trabalho combativo em muitas questões de defesa da saúde e do médico, mas, como sempre, muitos colegas não dão o valor necessário a essa entidade, pelo contrário, ainda criticam sem ao menos reconhecer o trabalho feito.

Enquanto nós médicos acharmos que basta ter uma boa formação, trabalhar incessantemente, achar que nosso dever está cumprido quando voltamos para nossa casa e nossa família, achando que isso é tudo que precisa ser feito, desculpe, não mudaremos nada, pois sem a participação de cada um de nós nas entidades representativas, sem engajamento nas discussões de assuntos de interesse da classe e da saúde em si, continuaremos vendo outros agentes decidirem por nós. Um conselho que daria aos colegas: participem, saiam da zona de conforto, pois os tempos exigem essa postura. Lamentações pelo que deveria ter sido feito e não foi só nos trará frustações. 

Precisamos de mais representatividade na política, pois muitas decisões que afetam o trabalho e a saúde como um todo são tomadas por agentes políticos visando seus interesses nem sempre alinhados para a promoção de saúde e muito menos com a classe médica.

O que pode ser feito é escolhermos melhor nossos representantes e estarmos associados em um propósito de valorização de nosso trabalho e de promoção de saúde digna para nossos pacientes.