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Os desafios de 2024

Dr. Rodrigo José Ramalho

 

O ano de 2024 se inicia com muitos desafios para a medicina rio-pretense. A começar pelas eleições municipais, em que os candidatos à Prefeitura e à Câmara Municipal devem assumir compromissos com a saúde, sem promessas intangíveis e visando propiciar uma assistência melhor para toda a população. Apesar de nossa cidade ter uma qualidade de saúde pública acima da média em relação ao Brasil, os desafios são diários e um planejamento adequado abrange todos os níveis de assistência: a primária, desempenhada nas unidades básicas de saúde e hoje com o modelo de integralidade com equipes de saúde da família; a secundária, com as especialidades funcionando e recebendo um fluxo adequado de pacientes, assim como a resolução no nível hospitalar de doenças simples; e a terciária, com o manejo de doenças complexas nos nossos hospitais de ponta. A cidade de Rio Preto, com sua pujança na área da saúde, com excelentes profissionais, clínicas, institutos, hospitais e faculdades, um verdadeiro polo nacional de vanguarda da medicina, merece uma administração que solidifique essas fortalezas.

Outro ponto sensível esse ano são as eleições na Unimed, a mola propulsora da saúde suplementar da região, a maior fonte de oxigênio para os hospitais privados da cidade, sendo de suma importância para o equilíbrio financeiro destes. Assumidamente a principal fonte de renda para a maioria de seus cooperados, ainda mais no cenário atual em que outras operadoras cortam repasses ou precarizam os salários e vínculos, essas eleições ditarão o nosso futuro de imediato, com decisões que impactam nosso dia a dia e de nossas famílias.

A precarização do trabalho médico é uma das maiores preocupações da APM, quer seja no já citado setor da saúde suplementar, quer seja no serviço público, em que faltam concursos com remuneração digna e condizente com a responsabilidade médica e carga de trabalho. Operadoras de saúde predadoras se aproveitam de uma mão de obra ainda em formação e que aceita condições inadequadas de trabalho, a fim de permanecerem em grandes centros, ofertando um atendimento de má qualidade, cerceando o trabalho dos colegas e desrespeitando os direitos especificados pela Agência Nacional de Saúde.

Um exemplo claro é em relação as mulheres médicas, maioria em nosso meio a partir desse ano segundo o estudo de demografia médica publicado ano passado. Nossas mulheres médicas, quando empregadas via pessoa jurídica, não tem sequer direito a licença remunerada durante o período da maternidade, sendo obrigadas a retornos precoces e algumas vezes sem o suporte familiar necessário.

A situação da empregabilidade médica deve piorar, visto que mais escolas médicas estão previstas para serem abertas, inclusive com a quarta faculdade na cidade de Rio Preto, permanecendo ainda a errônea ideia por parte dos governantes de que é necessário expandir a oferta. Não faltam médicos ou médicas no Brasil, falta distribuí-los melhor! O país não necessita de mais faculdades de medicina, precisa sim fixar o profissional nas áreas em que a relação médico/1000 habitante está baixa. Mas como fazer isso se 62% dos médicos estão onde vivem somente 29% da população? Como ajustar essa relação se no Maranhão temos 1 médico para 1000 habitantes enquanto em Brasília a relação é de 6? Todos conhecemos advogados que não exercem atividades jurídicas, engenheiros que não trabalham na sua área, dentistas que não conseguem exercer sua atividade profissional...logo encontraremos colegas que não conseguirão se inserir no mercado.

Assim, o papel do associativismo se faz presente. A APM regional São José do Rio Preto não se furtará de lutar pela classe médica, contra a precarização da medicina e com o olhar atento na saúde ofertada para a população.

 

Dr. Rodrigo José Ramalho, presidente da Associação Paulista de Medicina Regional de Rio Preto.