Uma questão de justiça
Dr. Rodrigo José Ramalho
A exclusão do termo “erro médico” pelo Conselho
Nacional de Justiça faz uma reparação histórica. Inúmeros médicos e médicas são
erroneamente imputados em processos cuja discussão engloba problemas
estruturais de assistência. Daí a mudança para o termo “danos materiais e/ou
morais decorrentes da prestação de serviços de saúde” é muito benvinda em nossa
sociedade.
Recordo caso recente do colega maranhense, cirurgião
pediátrico, que ceifou a própria vida após sofrer processo devido um acidente
na punção de um cateter de hemodiálise em uma criança renal crônica já com
vários sítios utilizados. O massacre ao qual foi exposto nesses tempos de
cancelamento virtual foi tamanho e sua saúde mental não suportou.
Nossos colegas obstetras,
ortopedistas e cirurgiões plásticos são os que mais sofrem processos, pois
lidam com expectativas extremamente positivas dos procedimentos e, mesmo com os
termos de consentimento e esclarecimentos que complicações ocorrem, os pacientes
não estão preparados para desfechos ruins.
Os americanos são o maior exemplo de
medicina defensiva do planeta, com práticas recorrentes de excesso de exames e
procedimentos desnecessários, assim como encaminhamento para outras
especialidades a fim de não opinar fora da sua área. Nas escolas médicas se
ensina em alguns cenários, como emergência, a solicitar todos os exames como,
por exemplo, em casos de dor torácica em que são realizados troponina, dímero-d
e bnp, independentemente da história clínica. Ainda, não é incomum,
principalmente nas especialidades cirúrgicas, a recusa por parte do
profissional de saúde de realizar procedimentos em pacientes com muitas
comorbidades.
Isso obviamente fez proliferar a
indústria de seguros para nós médicos, prática importada dos norte-americanos e
aumentando em nosso país. Com certeza, as senhoras e senhores já foram
abordados por alguma companhia de seguros a fim de se precaverem e obterem
maior tranquilidade para o exercício da profissão. Para vocês terem ideia do
mercado americano, as principais companhias Doctors Company, Medpro, Coverys e
Proassurance group possuem mais de 15 bilhões de dólares em ativos.
Assim, nossas entidades médicas
deveriam aproveitar o momento de repercussão dessa notícia e divulgar propagandas
educacionais a fim de conscientizar a população sobre o “novo” termo “danos
materiais e/ou morais decorrentes da prestação de serviços de saúde”. Ou ainda
estimular campanhas sobre a saúde mental de médicos e médicas que veem sua
prática comprometida devido a pressão para nunca errar.
Cabe salientar a presença da APM estadual nessa conquista e a Associação Médica Brasileira, demonstrando a força do associativismo quando praticado com as demais entidades que nos representam no país.
Dr. Rodrigo José Ramalho, presidente da
Associação Paulista de Medicina Regional de Rio Preto.