O inimigo dentro de casa
Dr. Leandro
Freitas Colturato
A atenção deve
ser redobrada para a consolidação de planos de saúde predadores no nosso Estado.
O sistema de saúde suplementar se encontra em um ponto crítico. A excelência da
assistência médica aqui praticada nos transformou em um polo de competência
reconhecido nacionalmente, porém todas essas conquistas coletivas estão em
perigo.
Infelizmente
operadoras com objetivo primordial de lucrar, com políticas financeiras cada
vez mais agressivas, se tornaram gigantes na saúde suplementar. Com muitos
milhões de beneficiários, inúmeros hospitais, centenas de clínicas e unidades
de diagnóstico distribuídos pelo país, atuam de forma a depredar a saúde, a
medicina e, primordialmente, a população.
Assistimos frequentemente
nas mídias sociais denúncias gravíssimas de serviços e de profissionais de
planos de saúde que atuam de forma impiedosa. Denúncias que vão de encontro com
os direitos da população que contrata o serviço. A voz das nossas autoridades não
pode calar. O CRM deve investigar a má atuação de médicos que constantemente
aparecem nas denúncias; a ANS e o MP a atuação predatória destas empresas; e os
usuários devem buscar seus direitos e procurarem as autoridades competentes
para apurar os fatos.
Imperioso evitar
que estas empresas imprimam aos seus colaboradores um treinamento sob
subordinação, padronizado, excluindo a autonomia do médico, vital para qualquer
tratamento. Necessário combater os riscos iminentes da verticalização, posto
que quando não controlado, poderá colocar as vidas das pessoas em risco, coagindo
o uso de medicamentos e de materiais de baixa qualidade e implantando meios
ortodoxos por algoritmos para autorizar procedimentos e exames que levariam a
interferência negativa no relacionamento médico-paciente.
O
relacionamento entre as operadoras e a rede de prestadores deve ser saudável e não
pode ser baseado em assalariamento, levando a uma perda total da prática médica
como profissão autônoma. Também não poderá visar redução tributária de encargos
trabalhistas, a pejotização e a criação de “falsas”cooperativas e de vínculos
“temporários” de trabalho, que certamente desabonariam e diminuiriam os direitos trabalhistas dos médicos.
Desta forma, importante que cada médico atente
para a importância de sua profissão e a influência que exerce na sociedade que
espera e confia a própria vida em suas mãos. Cabe a cada um avaliar suas
parcerias, condições de trabalho e autonomia, posto que o crescimento do setor
de saúde suplementar é uma realidade irreversível e, caberá aos médicos impor
sua posição e seus conceitos adquiridos na sua formação embasado no Juramento de
Hipócrates.
A Associação
Paulista de Medicina jamais medirá esforços para proteger a classe médica e a
população de planos que denigrem a imagem e o serviço do médico e oferecem
assistência de má qualidade. Intensificaremos cada vez mais a mobilização e os
protestos contra as condutas e as práticas deste mercado maquiavélico.
Dr. Leandro Freitas Colturato é
ginecologista e obstetra e diretor da 8ª Distrital da APM.