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Que celebremos 2022 com fé e saúde

Dr. Rafael A. Barbosa Delsin

 

 

Era uma vez, em um tempo longínquo, na última noite de dezembro, véspera de Ano Novo, uma menina pobre, muito magrinha e vestida com farrapos, perambulava vendendo caixas de fósforos pelas ruas frias com chinelos grandes demais para seus pés, pois eram os que a mãe usava. 

Ao correr pela rua a fim de evitar ser atropelada por duas carruagens desenfreadas que passavam em alta velocidade, um dos chinelos saiu de seu pé gelado e foi levado por um rapazinho que disse que faria dele um berço para a sua irmã. Para piorar, não conseguiria vender uma só caixinha de fósforo em todo o dia e ninguém lhe dera sequer uma moeda. Era certo que levaria uma sova do pai por isso.

Após este incidente, a menina continuou a andar descalça sobre a neve. Esmorecendo de fome e de frio e vencida pelo cansaço, viu uma saliência entre duas casas na qual procurou se acomodar para proteger-se do intenso frio. Pelas janelas das casas, sentia um cheiro bom de ganso assado (ora era véspera de ano novo).

Neste cantinho, a menina começou a acender vários fósforos, tentando se aquecer, e a cada fósforo acendido, ela tinha uma visão nova, linda e iluminada. Na primeira, a menina viu um fogão que aquecia o ambiente, trazendo conforto que ela nunca teve. Na segunda, um banquete farto de comida deliciosa. Na terceira, uma linda e decorada árvore de Natal. Todos estes sonhos desapareciam quando o fósforo se apagava. Eram coisas que ela desejava naquela noite congelante. 

Ao acender o último fósforo, foi a avó quem lhe apareceu, sorridente e amorosa, no esplendor da luz. Já morta, foi a única pessoa que a amara no mundo. A menina nunca vira a avó tão grandiosa nem tão bela. E ela tomou a neta nos braços e juntas voaram, mais e mais alto, longe da Terra, para um lugar onde não há mais frio, nem fome, nem sede, nem medo, nem abandono, porque elas estavam, agora, com Deus. 

No outro dia, os transeuntes se depararam com o corpo infantil gelado, sem vida, mas com semblante feliz e um sorriso nos lábios. 

Sem mais, este conto escrito pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen nos leva a uma reflexão profunda sobre o tempo em que estamos vivendo. A simbologia da batalha do bem contra o mal se arrasta há séculos. E a história nos colocou em um novo cenário, diante de um inimigo invisível. Sabemos que nenhum mal é eterno e quanto mais intensa for a escuridão, mais clara é a luz. Eterna, sim, deve ser nossa resiliência. Em um ano que ainda foi muito difícil, de perdas afetivas, de ausências sentidas, despedidas, podemos dizer que estamos imunes a tudo que a vida nos ceifa. A saudade invariavelmente fica, mas a crença de dias melhores é o que nos dá a força necessária para acreditarmos. Estar vivo já se tornou um privilégio. E isso deve ser celebrado também. 



 

Dr. Rafael A. Barbosa Delsin é 1º secretário da Diretoria da APM – Regional de São José do Rio Preto.