Aos profissionais da saúde, o nosso reconhecimento
Dr. Leandro Freitas Colturato
Os números mostraram
exaustivamente a crítica realidade dos que atuaram na linha de frente e que
lidaram diariamente com dor, tristeza, esgotamento físico e mental e medo da
contaminação e da morte. Muitos tiveram a vida alterada de modo significativo; perda
de entes queridos; excesso de trabalho com jornadas para além das 40 horas
semanais; a falta, a escassez e a inadequação dos EPIs; danos à saúde mental,
como perturbação do sono, irritabilidade, dificuldade de concentração e
pensamento negativo; episódios de violência e de discriminação; falta de
reconhecimento por parte da população; e a privação do convívio social e
familiar.
Em tempos como esse que nos coube
forçosamente viver o perigo, os profissionais da saúde são os primeiros a serem
expostos porque sua vocação é atuar onde a vida encontra-se ameaçada, expondo
medo e dor. É diante disso que eles ouvem o apelo mais profundo da humanidade,
na sua hora mais verdadeira e frágil. Foi a doença e o sofrimento que a
acompanha, que expuseram diante deles o rosto perdido e impotente daquele que
não pode mais cuidar de si mesmo e, por isso, busca auxílio. No dicionário da
ontologia, o nome disso é fragilidade.
Face aos pacientes, isolados e
sozinhos em um leito, que eles realizam sua vocação para o cuidado. Cuidar é
meditar com ponderação, pensar, reparar, atentar para e prestar atenção em. No
dicionário da ética, o nome disso é bondade.
Por isso, os profissionais da
saúde devem ser reverenciados.
Seus conhecimentos devem ser
respeitados e sua dedicação em estudar o novo deve ser enaltecida. Nas suas mãos, todos entregamos o que é mais
caro, a nossa própria vida. A ação de vocês é uma arte baseada na ciência, cujo
objeto é a cura, compreendida ao longo dos séculos como a devolução de um
organismo ao seu estado natural.
Aos colegas, deixo o dizer do
médico português João Lobo Antunes: “Não sei o que nos espera, mas sei o que me
preocupa: é que a medicina, empolgada pela ciência, seduzida pela tecnologia e
atordoada pela burocracia, apague a sua face humana e ignore a individualidade
única de cada vez mais modos de tratar, não se descobriu ainda a forma de
aliviar o sofrimento sem empatia ou compaixão”.
Nos
últimos anos, nós, profissionais da saúde, temos sofrido muito. A pandemia só
veio para mostrar o lado mais difícil. Passamos por uma crise política
que, em muitos momentos, parece não ter fim. Crises econômica, assistencial, da
saúde, enfim, momentos difíceis a serem superados. Mesmo com todos estes
empecilhos, vocês jamais deixaram de cumprir suas obrigações com o máximo de
perfeição que lhes cabem. Amor ao trabalho, empatia, compaixão, coragem e a
crença num futuro melhor para a humanidade estão, sem dúvida, entre as
principais razões para seguirem em frente.
Vivemos uma era em que atuar na
saúde fica cada dia mais difícil. Não é fácil ser profissional da saúde.
Lidamos com emoções extremas, interagimos com esperanças, fés, lutos e
negações. Vivemos uma exigência social que demanda uma atuação perfeita, sem
erros, que talvez pudesse ser realizada por não humanos. Uma classe política
que, em muitos momentos, nos usa como bode expiatório para desviar outros
focos.
Por fim, é hora de homenagear
quem tem o poder curativo. Se não ele, pelo menos o poder de aliviar as dores e
oferecer consolo. As cenas destes profissionais, de forma anônima por trás de
suas máscaras e seus aventais, devem ficar apenas na memória. Hoje, o que deve
ser exaltado é a capacidade deles em compadecer diante da dor alheia. Nessa
época de escuridão, não há nada que substitua essa vocação. O reconhecimento da
função social destes colegas é tão mandatório quanto a certeza de que a maioria
de nós estará, cedo ou tarde, em suas mãos. Se possível fosse contabilizar todo
o bem que fizeram, com certeza, a dívida da humanidade para com eles seria
incalculável e impagável. Em nome da APM regional de São José do Rio Preto, o
nosso reconhecimento a todo o tempo. Palmas para vocês que celebram a essência
humana com tanto empenho, dedicação e entusiasmo, apesar de todos os riscos.
Não há conhecimento e maturidade que nos salvem da nossa humanidade.
Dr. Leandro Freitas Colturato é presidente da APM - Regional de Rio Preto